quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Ele se esconde num corpo muito menor que sua alma.
Fica ali, apertado, sufocando sua alma,
Morando dentro de um corpo que não lhe cabe.
Uma alma tão grande, presa em matéria tão comum...
Deveria ter vindo luz, água ou som.
Podia ter vindo vento, pra espalhar esse tom.

Diva Brito
27/09/2006

(inspirado em Marco Ladeia)

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Aí vem ela toda certa
Toda bêbada de suas certezas
Espalha na mesa as cartas que ela
Supõe que ganharão a partida.
Aí vem ela completamente extrovertida
Inverte as posições em que as expõe
E de repente...
Pra sua surpresa,
se pega vencida, derrotada.
Ela não tem muito o que fazer...
Aí pede a revanche!


Diva Brito
25/09/2006

terça-feira, 19 de setembro de 2006

CONTO

A bailarina

Naquela manhã de verão, ela acordou se sentindo a garota mais bonita da cidade. Na verdade isso não era pretensão de sua parte. Porém, existia naquela vaidade matinal uma colher e meia de malícia. Marina percebia que havia começado a transformação do seu corpo, e que, sobretudo, já possuía um dos rostos mais perfeitos daquela região. Um rosto angelical, olhos azuis e arredondados, sobrancelhas naturalmente bem desenhadas, maças salientes e coradas, um nariz fino e arrebitado, cabelos num tom escuro, lisos e que se encontravam na altura da cintura daquela doce menina. Marina era a bonequinha da família e como se não bastasse filha do prefeito daquela cidade. Levantou muito mais cedo do que de costume pra se arrumar pro tão comentado desfile. A fanfarra da escola era tradicionalmente conhecida nas redondezas pela afinação e pela pompa com que se apresentavam em todas as datas comemorativas da cidade.
Ela corre pro banheiro. Tira a camisola de menina moça e entra no chuveiro, assim, como quem encena um comercial de sabonete. Olha os pequenos seios que depois de despontados já cresciam com uma forma arredondada e intimidadora. Tocava também sua cintura, que havia afinado consideravelmente. Seu quadril mais largo e seu bumbum proeminente a deixavam uma moça bastante atraente. Marina já completara os 17 e estava se preparando já pra sua festa de aniversário de 18 anos. Mas era engraçado, pois aquelas transformações se iniciaram paralelas ao período da sua primeira menstruação, mas só agora ela realmente se via como uma mulher, e não mais como menina crescida. Essa visão que ela acabara de ter, talvez demorasse mais ainda de chegar às mentes de alguns homens de seu convívio, como seu pai, seus primos e tios, os colegas da escola com quem estudava desde a alfabetização, e os amigos da família.
Veste toda a roupa de bailarina e entre uma peça e outra ela relembra os passos que houvera ensaiado. Marina core no quarto da mãe e chama pra que venha fazer sua polpa – era sempre ela que penteava a filha pros eventos. Os fios muito lisos teimam em escorregar das mãos da mãe, mas como já havia pratica m penteá-la, Consegue em alguns minutos formar a polpa do jeito que Marina adora. Depois de arrumada a menina desce e toma um suco. Experimenta o bolo que a mãe fizera, e que era o preferido dela: bolo de fubá. Marina faz os últimos retoques na maquiagem caprichada que fazia pros eventos mais importantes. Um batom vermelho nos lábios, blush nas maçãs já naturalmente coradas e muito rímel.
O pai já está na sala com a mãe já arrumada, ambos esperando pra levar a filha até a concentração do desfile.
A coordenadora do evento, posiciona corretamente os componentes da banda e anuncia que a fanfarra vai sair.
Marina graciosamente dança à frente da banda. Com o seu sorriso que havia esquecido de comentar, mas que só intensificava a beleza de princesa com a qual a menina já nascera. Os rapazes da cidade admiravam a beleza estonteante de Marina como algo quase que intocável. Como se a menina fosse uma princesa presa na torre e só sendo muito nobre e corajoso pra se casar com ela. E era, com certeza a mais bela e bem educada menina da cidade, coisa que a fazia “sonho de consumo impalpável” a todos eles. Além do mais, a figura do seu pai projetava nela mais ainda a figura de bibelô de estante.
E aí, na frente da fanfarra, vem a bailarina insatisfeita que olha pros rostos que a fitam com aquela infinita ternura.Ela para a banda e retruca:
- Ei! não me olhem assim! Não fui feita pra enfeitar, não vou aqui iludir.Coloquei esta meia transparente, um decote generoso, um maiô bem curto, essa sainha de filó super sensual, e ainda estou com as pernas de fora e vocês me olham com essa inocência intragável...?
Do fundo da fanfarra solta bem alto um dos trompetistas:
-Ó...já que pode falar,moça, cê tá gostosa pra caralho!

Marina se vira com um riso de quem estava agora sim, se sentido mulher. A banda recomeça e fanfarra prossegue, agora assistida por olhos famintos sobre a bailarina satisfeita!
FIM.
Diva Brito
19/09/2006

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Rasga essa felicidade na boca,
Rasga essa coisa contida
E tão condensada em você.
Vai menina, e rasga mesmo
Essa sua displicência eterna,
Que camufla nessa moça etérea,
Uma submissão ao que a vida decide.
Ah, mais isso é só cinema,
Arte que mais se aplica a ela,
Que dirige, produz e contracena,
O que no seu filme decide ela.

Diva Brito
14/09/2006
(Inspirado em Brisa Dalilla)

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Eu sou letras, palavras,
soltas ou arrumadas,
sou um invento,
um contentamento sem cor.
Sou o que não tinha que ser,
ou se tinha, quem vai saber?
Sou movida a amor.
Sou cheia de coisinhas minhas
que aprendi com Mai
a guardar em caixinhas,
e é isso que sou.

Diva Brito
28/06/2006

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

ACEITE

Meus versos não precisam ser seus
E não mais o serão desde esse tempo.
Aceite que você não teve tato,
Não soube perceber minha alma,

Com os seus olhos acerados,
Fez do meu peito calabouço
Onde eu mesma me esqueci.
Mas isso é finito, meu bem.

Aceite que eu achei aconchego
Numa alma que enxergou a minha
Num peito que libertou o meu

Num coração que curou minhas feridas
Num amor que não se finge, não!



Diva Brito
14/09/2006

domingo, 10 de setembro de 2006

Passeio vez ou outra, meio perdida, às margens do que penso, do que escrevo e monto. Quando isso acontece, procuro manter o equilíbrio e tentar voltar a linha de pensamento de onde me exportei. Essas aventuras as vezes me prendem por horas e horas. Sem que o ruído do mundo me desconcentre.

Diva Brito
02/09/2006

Mudanças, todas intensas
Isso é o que explica Milena
Fazendo tudo valer a pena
Mesmo que a dor não seja pequena
Lirismo e sedução em cena
Quando o vento assanha suas melenas
Se ama, ama ainda mesmo que não tenha
Sua arte, quem sabe um dia o mundo entenda.

Diva Brito
09/09/2006

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

O céu de hoje me deixou angústia nos olhos.
Cerrado, carregado, como se tivesse absorvido
toda a dor desta minha semana.
O céu de hoje trouxe um vento
anunciando um fado sofrido.
Mais? Já não lhes basta
olhos constantemente úmidos
e corpo encarangado?
Tentando reagir do caos íntimo
em que me entranhara,
hoje ensaiei entoar um canto.
As pontadas no peito me fizeram
desafinar nas notas mais altas.
É, desisto.
Pra quem tem a saudade amargando,
resta calar e ouvir a noite.

Diva Brito
08/09/2006
20:33 hs

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Involuntariamente algumas coisas acontecem.
Como por exemplo as minhas lágrimas tão contidas
quando resolvem se suicidar.
Lançar-se desenfreadamente da cavidade dos meus olhos.
Nesse exato momento queria algo que estancasse meus olhos.


Diva Brito
06/09/2006





sexta-feira, 1 de setembro de 2006

BONECA DE VIDRO

Sou uma poetisa burra
Daquela que se arrebenta
Mas que não aprende a desamar

Sou o aquele tipo de mulher
Que por azar um dia aprendeu
Que não se deve o outro machucar

Sou uma menina tosca
Que deixa escapulir da boca
Quando decide amar

Sou então uma boneca de vidro
Que se cair, eu duvido
Que outro alguém possa colar.


Diva Brito
01/09/2006
10:30 hs